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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Estou ouvindo música.
Debussy usa as espumas do mar morrendo na areia,
refluindo e fluindo.
Bach é matemático.
Mozart é o divino impessoal.
Chopin conta a sua vida mais íntima.
Schoenberg, através de seu eu,
atinge o clássico eu de todo o mundo.
Beethoven é a emulsão humana em tempestade
procurando o divino e só o alcançando na morte.
Quanto a mim, que não peço música,
só chego ao limiar da palavra nova.
Sem coragem de expô-la.
Meu vocabulário é triste e às vezes
wagneriano-polifônico-paranóico.
Escrevo muito simples e muito nu. Por isso fere.
Sou uma paisagem cinzenta e azul.
Elevo-me na fonte seca e na luz fria.

(Clarice Lispector)

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