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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

...

Heathcliff: Como você pode estar frente a mim e fingir que não se lembra?
Fingir que não sabe que meu coração se parte por você?
Que seu rosto é uma luz queimando em meio à escuridão?

Cathy:
Heathcliff, pare, eu te proíbo.


Heathcliff:
Você proíbe o que seu coração está dizendo?

Cathy:
Ele não está dizendo nada.


Heathcliff: Eu estou escutando, mais alto que a música. Oh Cathy...

Cathy: Eu não sou a Cathy que era antes.
Você entende isso? Sou outra pessoa.
Sou a esposa de outro homem, ele me ama e eu o amo.

Heathcliff: Se ele te amasse com todas as forças de sua alma por uma vida inteira, ainda assim ele não te amaria tanto quanto eu te amo num único dia.

(O Morro dos ventos uivantes)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011


Sei que eu mesma não presto.
Mas eu te digo: eu nasci para não me submeter;
e se houver essa palavra, para submeter os outros.
Não sei porque nasceu em mim desde sempre a idéia profunda
de que sem ser a única nada é possível.
Talvez minha forma de amor seja nunca amar
senão as pessoas de quem eu nada queira esperar e ser amada.


Clarice Lispector

Chanson


Disse a meu peito, a meu pobre peito:
- Não te contentas com um só amante?
Pois tu não vês que êste mudar constante
Gasta em desejos o prazer do amor?

Êle respondeu: - Não! não me contento;
Não me contento com um só amante.
Pois tu não vês que êste mudar constante
Empresta aos gozos um melhor sabor?

Disse a meu peito, a me pobre peito:
- Não te contentas desta dor errante?
Pois tu não vês que êste mudar constante
A cada passo só nos traz a dor?

Êle respondeu: - Não! não me contento,
Não me contento desta dor errante...
Pois tu não vês que êste mudar constante
Empresta às mágoas um melhor sabor?

Tradução de Castro Alves-Alfred du Musset

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Há uma solidão no céu,
uma solidão no mar
e uma solidão na morte.
Mas fazem todas companhia
comparadas a este local profundo,
esta polar intimidade,
uma Alma que reconhece a Si mesma:
finita infinidade.


Emily Dickison
Estou ouvindo música.
Debussy usa as espumas do mar morrendo na areia,
refluindo e fluindo.
Bach é matemático.
Mozart é o divino impessoal.
Chopin conta a sua vida mais íntima.
Schoenberg, através de seu eu,
atinge o clássico eu de todo o mundo.
Beethoven é a emulsão humana em tempestade
procurando o divino e só o alcançando na morte.
Quanto a mim, que não peço música,
só chego ao limiar da palavra nova.
Sem coragem de expô-la.
Meu vocabulário é triste e às vezes
wagneriano-polifônico-paranóico.
Escrevo muito simples e muito nu. Por isso fere.
Sou uma paisagem cinzenta e azul.
Elevo-me na fonte seca e na luz fria.

(Clarice Lispector)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Quando fico a pensar poder deixar de ser
antes que a minha pena haja tudo traçado,
antes que em algum livro ainda possa colher
dos grãos que semeei o fruto sazonado;

quando vejo na noite os astros a brilhar
- vasto e obscuro Universo, impenetrável mundo! -
quando penso que nunca hei de poder traçar
sua imagem com arte e em sentido profundo;

quando sinto a fugaz beleza de alguma hora
que não verei jamais - como doce miragem –
turva-se a minha mente, e a alma em silêncio chora

um impulsivo amor. E a sós, me sinto à margem
do imenso mundo, e anseio imergir a alma em nada
até que a glória e o amor me dêem a hora sonhada!

John Keats( inglês - 1795-I82l )

SONHO VAGO

Um sonho alado que nasceu num instante,
Erguido ao alto em horas de demência...
Gotas de água que tombam em cadência
Na minh’alma tristíssima, distante...
Onde está ele o Desejado? O Infante?
O que há de vir e amar-me em doida ardência?
O das horas de mágoa e penitência?
O Príncipe Encantado? O Eleito? O Amante?
E neste sonho eu já nem sei quem sou...
O brando marulhar dum longo beijo
Que não chegou a dar-se e que passou...
Um fogo-fátuo rútilo, talvez...
E eu ando a procurar-te e já te vejo!...
E tu já me encontraste e não me vês!...


(Florbela Espanca)




Um largo e lento vento dormente

Taciturnas lágrimas sonâmbulas, sinfônicas

Um esquecimento amargo

Uma sombria clausura de almas

Suspirando e gemendo solitárias harmonias

Vago luar de esquecimento e prece,
Dessa melancolia que anda errando
No mar e nas estrelas ondulando,
Pela minh'alma etereamente desce.

Na minh'alma, dos Sonhos anoitece
O Sentimento que ando transformando
Em hóstia de ouro

Sombra e silêncio


(João da Cruz e Sousa)

Por Que Mentias?





Por que mentias leviana e bela?
Se minha face pálida sentias
Queimada pela febre, e se minha vida
Tu vias desmaiar, por que mentias?

Acordei da ilusão, a sós morrendo
Sinto na mocidade agonias.
Por tua causa desespero e morro...
Leviana sem dó, por que mentias?

Sabe Deus que te amei! Sabem as noites
Essa dor que alentei, que tu nutrias!
Sabe esse pobre coração que treme
Que a esperança perdeu porque mentias!

Vê minha palidez – a febre lenta,
Esse fogo das pálpebras sombrias...
Pousa a mão no meu peito! Eu morro! Eu morro!
Leviana sem dó, por que mentias?

(Álvares de Azevedo)

Como Eu Te Amo

Como se ama o silêncio, a luz, o aroma,
O orvalho numa flor, nos céus a estrela,
No largo mar a sombra de uma vela,
Que lá na extrema do horizonte assoma;

Como se ama o clarão da branca lua,
Da noite na mudez os sons da flauta,
As canções saudosíssimas do nauta,
Quando em mole vaivém a nau flutua;

Como se ama das aves o gemido,
Da noite as sombras e do dia as cores,
Um céu com luzes, um jardim com flores,
Um canto quase em lágrimas sumido;

Como se ama o crepúsculo da aurora,
A mansa viração que o bosque ondeia,
O suspiro da fonte que serpeia,
Uma imagem risonha e sedutora;

Como se ama o calor e a luz querida,
A harmonia, o frescor, os sons, os céus,
Silêncio, e cores, e perfume, e vida,
Os pais e a pátria e a virtude e a Deus.

Assim eu te amo, assim; mais do que podem
Dizer-to os lábios meus, - mais do que vale
Cantar a voz do trovador cansada:
O que é belo, o que é justo, santo e grande.

Amo em ti – Por tudo quanto sofro,
Por quanto já sofri, por quanto ainda
Me resta de sofrer, por tudo eu te amo.
O que espero, cobiço, almejo, ou temo
De ti, só de ti pende: oh! Nunca saibas.
Com quanto amor eu te amo, e de que fonte
Tão terna, quanto amarga o vou nutrindo!
Esta oculta paixão, que mal suspeitas,
Que não vês, não supões, nem te eu revelo,
Na dor aumento, intérprete nas lágrimas.

................................................................................

De mim não saberás como te adoro;
Não te direi jamais,
Se te amo, e como, e a quanto extremo chega
Esta paixão voraz!

Se andas, sou o eco dos teus passos;
Da tua voz, se falas;
O murmúrio saudoso que responde
Ao suspiro que exalas.

No odor dos teus perfumes te procuro,
Tuas pegadas sigo;
Velo teus dias, te acompanho sempre,
E não me vês contigo!

Oculto e ignorado me desvelo
Por ti, que me não vês;
Aliso o teu caminho, esparjo flores
Onde pisam teus pés.

Mesmo lendo estes versos, que m’inspiras,
- Não pensa em mim, dirás:
Imagina-o, se podes, que os meus lábios
Não to dirão jamais!

............................................................................................

Sim, eu te amo; porém nunca
Saberás do meu amor;
A minha canção singela
Traiçoeira não revela
O prêmio santo que anela
O sofrer do trovador!

Sim, eu te amo; porém nunca
Dos lábios meus saberás,
Que é fundo como a desgraça,
Que o pranto não adelgaça,
Leve qual sombra que passa,
Ou como um sonho fugaz!

Aos meus lábios, aos meus olhos
Do silêncio imponho a lei;
Mas lá onde a dor se esquece,
Onde a luz nunca falece,
Onde o prazer sempre cresce,
Lá saberás se te amei!

E então dirás: “Objeto
Fui de santo e puro amor;
A sua canção singela,
Tudo agora me revela;
Já sei o prêmio que anela
O sofrer do trovador.

“Amou-me como se ama a luz querida
Como se ama o silêncio, os sons, os céus,
Qual se amam cores e perfumes e vida,
Os pais e a pátria, e a virtude e a Deus!”

(Gonçalves Dias)

A Morte É Que Está Morta

A morte é que está morta.
Ela é aquela Princesa Adormecida
No seu claro jazigo de cristal.
Aquela a quem, um dia – enfim - despertarás...

E o que esperavas ser teu suspiro final
é o teu primeiro beijo nupcial!

-Mas como é que eu te receava tanto
(no teu encantamento lhe dirás)
E como podes ser assim - tão bela?!
Nas tantas buscas, em que me perdi,
Vejo que cada amor tinha um pouco de ti...
E ela, sorrindo, compassiva e calma:
-E tu, por que é que me chamavas Morte?
Eu sou apenas, a tua Alma...


(Mário Quintana)

Canção Para Uma Valsa lenta


Minha vida não foi um romance...
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amas, não digas, que morro
De surpresa... de encanto... de medo

Minha vida não foi um romance,
Minha vida passou por passar.
Se me amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.

Minha vida não foi um romance...
Pobre vida... passou sem enredo...
Glória a ti que me enches a vida
De surpresa, de encanto, de medo!

Minha vida não foi um romance...
Ai de mim... Já se ia acabar!
Pobre vida que toda depende
De um sorriso... de um gesto... um olhar...

(Mário Quintana)





Um poema como um gole d’água bebido no escuro.
Como um pobre animal palpitando ferido.
Como pequenina moeda de prata perdida para sempre na floresta noturna.
Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa condição de poema.
Triste.
Solitário.
Único.
Ferido de mortal beleza.




(Mário Quintana)

sábado, 29 de janeiro de 2011

Canto a mim mesmo (fragmentos)


1

Com música forte eu venho,
com minhas cornetas e meus tambores:
não toco hinos
só para os vencedores consagrados,
toco hinos também
para as pessoas batidas e assassinadas.

Vocês já ouviram dizer
que ganhar o dia é bom?

Pois eu digo que é bom também perder:
batalhas são perdidas
com o mesmo espírito
com que são ganhas.

Eu rufo e bato o tambor pelos mortos
e sopro nas minhas embocaduras
o que de mais alto e mais jubiloso
posso por eles.

Vivas àqueles que levaram a pior!
E àqueles cujos navios de guerra
afundaram no mar!
E a todos os generais
das estratégias perdidas,
que foram todos heróis!
E ao sem número dos heróis maiores
que se conhecem!

2

Quem é que vai por aí
aflito, místico, nu?
Como é que eu tiro energia
da carne de boi que como?

O que é um homem, enfim?
O que é que eu sou?
O que é que vocês são?

Tudo o que eu digo que é meu,
vocês podem dizer que é de vocês:
de outro modo, escutar-me
seria perder tempo.

Não ando pelo mundo a lastimar
o que o mundo lastima em demasia:
que os meses sejam de vácuo
e o chão seja de lama
e podridão.

A gemer e acovardar-se,
cheio de pós para inválidos,
o conformismo pode ficar bem
para os de quarta categoria;
eu ponho o meu chapéu como bem quero,
dentro ou fora de portas.

Por que iria eu rezar?
Por que haveria eu de me curvar
e fazer rapapés?

Tendo até os estratos perquirido,
analisado até um fio de cabelo,
consultado doutores
e feito os cálculos apropriados,
eu não encontro gordura mais doce
do que a inserida em meus próprios ossos.

Em toda pessoa eu vejo a mim mesmo,
nem mais nem menos um grão de mostarda,
e o bem ou mal que falo de mim mesmo
falo dela também.

Sei que sou sólido e são,
para mim num permanente fluir
convergem os objetos do universo;
todos estão escritos para mim
e eu tenho de saber o que significa
o que está escrito.

Sei que sou imortal,
sei que esta minha órbita não pode
ser traçada
pelo compasso de um carpinteiro qualquer.
Sei que não passarei
assim que nem verruga de criança
que à noite se remove
com um alfinete flambado.

Eu sei que sou majestoso,
não vou tirar a paz do meu espírito
para mostrar quanto valho
ou para ser compreendido:
tenho visto que as leis elementares
jamais pedem desculpas.
(Eu reconheço que afinal de contas,
não levo meu orgulho
além do nível a que levo a minha casa.)

Existo como sou,
isso é o que basta:
se ninguém mais no mundo
toma conhecimento,
eu me sento contente;
e se cada um e todos
tomam conhecimento,
eu contente me sento.

Existe um mundo
que toma conhecimento,
e este é o maior para mim:
o mundo de mim mesmo.
Se a mim mesmo eu chegar hoje,
daqui a dez mil ou dez milhões de anos,
posso alcançá-lo agora bem-disposto
ou posso bem-disposto espetar mais.

O lugar de meus pés
está lavrado e ajustado em granito:
rio-me do que dizem ser dissolução
– conheço bem a amplitude do tempo.

3

Eu sou o poeta do Corpo
e sou o poeta da alma,
as delícias do céu
estão em mim
e os horrores do inferno
estão em mim
– o primeiro eu enxerto
e amplio ao meu redor,
o segundo eu traduzo
em nova língua.

Eu sou o poeta da mulher
tanto quanto o do homem
e digo que tanta grandeza existe
no ser mulher
quanta no ser homem,
e digo que não há nada maior
do que uma mãe de homens.

Canto o cântico da expansão e orgulho:
já temos tido o bastante
em esquivanças e súplicas,
eu mostro que tamanho
nada mais é do que desenvolvimento.

você já passou os outros,
já chegou a Presidente?
É pouco: até aí hão de chegar
e irão ainda mais longe.

Eu sou aquele que vai com a noite
tenra e crescente,
e invoco a terra e o mar
que a noite leva pela metade.
Aperte mais, noite de peito nu!
Aperte mais, noite nutriz magnética!
Noite dos ventos do sul,
noite das poucas estrelas grandes!
Noite silenciosa que me acena
– alucinada noite nua de verão!

Sorria, ó terra cheia de volúpia,
de hálito frio!
Terra das árvores líquidas e dormentes!
Terra em que o sol se põe longe,
terra dos montes cobertos de névoa!
Terra do vítreo gotejar da lua cheia
apenas tinta de azul!
Terra do brilho e sombrio encontro
nas enchentes do rio!
Terra do cinza límpido das nuvens,
por meu gosto mais claras e brilhantes!
Terra que faz a curva bem distante,
rica terra de macieiras em flor!
Sorria: o seu amante vem chegando!

Pródiga, amor você tem dado a mim:
o que eu dou a você, por tanto, é amor
– indizível e apaixonado amor!

extraído de "Folhas das Folhas de Relva"
(1983, Brasiliense, trad. Geir Campos)


Walt Whitman

"Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse a chorar isto que sinto!"

Florbela Espanca

Eu


Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada… a dolorida…

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!…

Sou aquela que passa e ninguém vê…
Sou a que chamam triste sem o ser…
Sou a que chora sem saber porquê…

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!

Florbela Espanca - Livro de Mágoas

Ódio?


Ódio por ele?Não…Se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida roubei todo o encanto…

Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Como um soturno e enorme Campo Santo!

Ah! Nunca mais amá-lo é já o bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!

Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda.
Ódio por ele? Não…não vale a pena…

Florbela Espanca - Livro de Soror Saudade

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sigur Ros - Sæglópur

Fleurs Du Mal


Is it you I keep thinking of?
Should I feel like I do?
I've come to know that I miss your love
While I'm not missing you
We run
Til it's gone
Et les fleurs du mal
Won't let you be
You hold the key to an open door
Will I ever be free?

(Refrão)
Les fleurs du mal unfold
Comme les fleurs du mal
Dark demons of my soul
Un amour fatal
Been tryin' hard to fight
Comme les fleurs du mal
Les fleurs du mal inside
Un amour fatal

All my life I've been waiting for
In this perfume of pain
To forget when I needed more
Of love's endless refrain
We live
And we pray
Pour les fleurs du mal
I've lost my way
What is done will return again
Will I ever be free?

(Repete Refrão)

Les fleurs du mal
Comme les fleurs du mal
Un amour fatal
Comme les fleurs du mal

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Swan- Secret Garden

Poema

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.

Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...

— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.

Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Arthur Rimbaud

domingo, 16 de janeiro de 2011

Sopor Aeternus - The House Is Empty Now

Estas Almas Incertas


Quero um mal de morte
A estas almas incertas.
Tortura-as a honra que vos fazem,
Pesam-lhes, dão-lhe vergonha os seus louvores.
Porque não vivo
Preso à sua trela,
Saúdam-me com um olhar agridoce.
Onde passa uma inveja sem esperança.

Ah! Porque não me amaldiçoam!
Porque não me viram francamente as costas!
Aqueles olhos suplicantes e extraviados
Hão-de enganar-se sempre a meu respeito.

Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"

Algo Existe

Algo existe num dia de verão,
No lento apagar de suas chamas,
Que me impele a ser solene.
Algo, num meio-dia de verão,
Uma fundura - um azul - uma fragrância,
Que o êxtase transcende.
Há, também, numa noite de verão,
Algo tão brilhante e arrebatador
Que só para ver aplaudo -
E escondo minha face inquisidora
Receando que um encanto assim tão trêmulo
E sutil, de mim se escape.

(Emily Dickinson-Tradução de Lúcia Olinto)

Von Thronstahl - Waldgang and Apoliteia

A Doce Dança do Tempo


A doce dança do tempo
Segure minha mão com firmeza,
mas com carinho.

Olhe nos meus olhos bem fundo
enquanto eu te olho
no fundo dos seus olhos.

Enxergue minha alma
enquanto traduzo seus sonhos
e deixe que a gente flutue
bem juntos em uma só energia.

Vamos dançar juntos
como se voássemos
em uma nuvem exclusiva toda nossa.

E enquanto dançamos,
eu te beijo
e você me beija
e a essa altura
já não sou eu, nem você
Somos nós dois, em um apenas.

Dois seres, dois corpos,
um sentimento,
uma dança,
uma alma única.
(Carlos Drummond)

A Morte que está morta

A morte é que está morta.
Ela é aquela Princesa Adormecida
no seu claro jazigo de cristal.
Aquela a quem, um dia- enfim- despertarás...

E o que esperavas ser teu suspiro final
é o teu primeiro beijo nupcial!

- Mas como é que eu te receava tanto
(no teu encantamento lhe dirás)
e como podes ser assim- tão bela?!
Nas tantas buscas, em que me perdi,
vejo que cada amor tinha um pouco de ti...

E ela, sorrindo, compassiva e calma:

- E tu, por que é que me chamavas Morte?
Eu sou, apenas tua Alma...


(Mário Quintana- extraído de CARUS ARA)




sábado, 15 de janeiro de 2011

Da Vez Primeira




Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha…
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha…

E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada…
Arde um toco de vela, amarelada…
Como o único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! Desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!

Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!

(Mário Quintana)

O Poema



Um poema como um gole dágua bebido no escuro.
Como um pobre animal palpitando ferido.
Como pequenina moeda de prata perdida para sempre
[na floresta noturna.
Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa
[condição de poema.
Triste.
Solitário.
Único.
Ferido de mortal beleza.

Mário Quintana
in Aprendiz de Feiticeiro

Canção Para Uma Valsa Lenta



Minha vida não foi um romance...
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amas, não digas, que morro
De surpresa... de encanto... de medo...

Minha vida não foi um romance...
Minha vida passou por passar.
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.
Minha vida não foi um romance...
Pobre vida... passou sem enredo...
Glória a ti que me enches a vida
De surpresa, de encanto, de medo!

Minha vida não foi um romance...
Ai de mim... Já se ia acabar!
Pobre vida que toda depende
De um sorriso... de um gesto... um olhar...

(Mário Quintana)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Vivaldi - Four Seasons (Winter)

Willow- Emilie Autumn



Salgueiro, chore por mim
Curve seus mais altos galhos
Desça para essas mãos infames
De alguém que nunca entende


Eu não sou única nisso
É baseado em nada além dos meus erros
A noite deito-me acordada
Pensando em todos os corações que eu felizmente quebrei


É cruel eu sei
Pelo menos assim o dizem-me
Bem alguém me trancaria e jogaria fora a chave
Porque eu não estou envergonhada, oh não
Oh, salgueiro


Que eu só escrevo canções de amor
Para aqueles a quem eu não amo
Eu apenas chego para ele
Quem está amarrando as luvas de alguém
Aquele que me segurar no interior
Que eu admiro e ridicularizo
Que eu defendo e escondo


Salgueiro, chore por mim
Não ache que eu não vejo
Essa vida que estou vivendo em dois
Mas ainda é algo que devo fazer
Eu não sou único nisso
Também não sou especial, doce ou amável
Eu cortejo uns mil sorrisos
No entanto eu mantenho o meu próprio escondido


É cruel eu sei
Pelo menos assim o dizem-me
Bem alguém me trancaria e jogaria fora a chave
Porque eu não estou envergonhada, oh não
Oh, salgueiro


Que eu só escrevo canções de amor
Para aqueles a quem eu não amo
Eu apenas chego para ele
Quem está amarrando as luvas de alguém
Aquele que me segurar no interior
Que eu admiro e ridicularizo
Que eu defendo e escondo


Calúnia e discordância
Eles estão na saleta de jogos para mim
Papéis cheios de mentiras loucas demais para falar
Você diz que eles nunca te machucam
Nenhuma conseqüência, eu estou feliz
Estamos longe demais acima de tudo
Mas, oh não, isso não é verdade


Estes perversos passatempos tem o seu preço
Estes vícios tiranos quebram sua alma
Entrego tudo que eu sou
E tudo que eu nunca quero ser


Eu amo você (Oh salgueiro, salgueiro, salgueiro)
Não duvide de mim
Reescreva essa parcela à vista de todos


Que eu só escrevo canções de amor
Para aqueles a quem eu não amo
Eu apenas chego para ele
Quem está amarrando as luvas de alguém
Aquele que me segurar no interior
Que eu admiro e ridicularizo
Que eu defendo e escondo


Dobre seus ramos para o chão e me mantenha perto


Me permita conciliar com tudo o que sabemos
Partilhe a sua simpatia e chore por mim
Oh, salgueiro, cure os corações que eu tenho quebrado
Faça-me pura e comece de novo a minha canção


Que eu só escrevo canções de amor
Para aqueles a quem eu não amo
Eu apenas chego para ele
Quem está amarrando as luvas de alguém
Aquele que me segurar no interior
Que eu admiro e ridicularizo
Que eu defendo e escondo

Mon Amour

Mon bien-aimé Nick



Do inquieto oceano da multidão
veio a mim uma gota gentilmente
suspirando:

— Eu te amo, há longo tempo
fiz uma extensa caminhada apenas
para te olhar, tocar-te,
pois não podia morrer
sem te olhar uma vez antes,
com o meu temor de perder-te depois.

— Agora nos encontramos e olhamos,
estamos salvos,
retorna em paz ao oceano, meu amor,
também sou parte do oceano, meu amor,
não estamos assim tão separados,
olha a imensa curvatura,
a coesão de tudo tão perfeito!
Quanto a mim e a ti,
separa-nos o mar irresistível
levando-nos algum tempo afastados,
embora não possa afastar-nos sempre:
não fiques impaciente — um breve espaço
e fica certa de que eu saúdo o ar,
a terra e o oceano,
todos os dias ao pôr-do-sol
por tua amada causa, meu amor.



Walt Whitman, in "Leaves of Grass"